quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ARTE CRISTÃ - Sinais do reino de Deus nas expressões de arte e louvor

O povo de Deus que se expressa através do louvor e música em tantos cantos deste país está perdendo seu senso de missão. É interessante notar isto ao olharmos as manifestações artísticas que vemos hoje no meio evangélico, manifestações cada vez mais entrincheiradas dentro dos templos ou ambientes de encontros chamados de adoração. E quando saímos de nossos guetos, levamos a arte, a música e o louvor numa linguagem burra, desconexa e não contextualizada.

Insistimos em sermos lâmpadas dentro de uma caixa de lâmpadas e em ser sal dentro do saleiro, perdendo portanto, a finalidade de sua razão de existência, isto é, iluminar no meio da escuridão e salgar impedindo que a carne se apodreça tão rapidamente e que ganhe sabor. Desejamos viver protegidos, sem desafios que exijam de nós aprendizado, disciplina e preparo.

Adoradores e artistas perdem e desprezam a noção de usarmos a vida, a música e todo o tipo de expressão artística para manifestarmos e testemunharmos do evangelho que abraçamos. Por causa de uma teologia distorcida e pouco bíblica, insistimos em ensinar e orientar que os artistas devem “largar o mundo” e não podem mais atuar fora dos limites eclesiásticos e nem atuar profissionalmente, contrariando o ensino de Jesus de sermos testemunhas e presentes no mundo como testemunhas do amor e presença de Deus..

Alguns artistas chamados cristãos cantam letras mais vez mais superficiais, camufladas, que mais “escondem” o conteúdo da Palavra de Deus, músicas e letras de conteúdo o mais dúbio possível, para que possam tocar em rádios seculares. Ainda pior, usarmos músicas populares conhecidas, e colocarmos versões de letra com linguajar e conteúdo “crentês” (inclusive de filmes como Titanic…). Manifestação artística medíocre, pobre, superficial, mal feita. E vamos assistindo a arte “naufragando” num mar de ignorância e falso senso de santidade.

Vivi recentemene uma experiência onde percebi claramente esta tensão, quando numa mesma cidade e num mesmo dia, estava acontecendo um encontro de louvor num espaço gospel, onde jovens estavam dançando e pulando ao som dos “mantras” atuais (músicas repetitivas de 4 acordes e de longa duração). O evento servia apenas como entretenimento ou mais uma atração, inclusive quando o “som” parava os jovens não ficavam nem para a ministração da Palavra de Deus.

E em outro local uma banda de cristãos faziam a abertura de um show de rock (hardcore), com letras explícitas do evangelho de Jesus. Os jovens não cristãos que chegavam ali, preparados para uma noite de piração e bebedeira, ouviam a Palavra de Deus num testemunho destemido daqueles rapazes.

Ao meu lado, um outro jovem músico cristão, sincero, e que foi convidado para estar ali, que reclamava por estar assistindo aquele trabalho já que “havia negado o mundo” e achava que não deveria estar ali; percebi nele um jovem soldado de Cristo que foi desmobilizado por aqueles que, com preconceitos e uma mentalidade religiosa retrógada e de falsa santidade, o ensinaram e discipularam.

Meu coração se encheu de alegria por ver aquela manifestação de poder e da presença do reino de Deus ali e na vida daquele conjunto que abriu o evento. Perguntei-me se Jesus estaria no encontro de louvor ou ali num ambiente tão desfavorável e aparententemente antagônico à mensagem do evangelho musicada? Imagino que o Senhor iria priorizar estar presente entre incrédulos, com um coração cheio de compaixão e misericórdia!

Lembrei-me de Janires, Comunidade S-8, Desafio Jovem, Jocum, Mocidade Para Cristo, Edson e Tita Lobo, Wanda Sá, Abraham Laboriel, Rique Pantoja, Sal da Terra. Daniel Maia, artistas e ministérios que fizeram nascer trabalhos criativos de testemunho através da música, teatro, dança e outras manifestações da arte e da arte cristã.

Ouvindo meu bom amigo e músico cristão Carlinhos Veiga nestes dias em Vitória num encontro de criatividade, cantando com sua viola e pregando a palavra do Mestre, e meu irmão Shibas de BH dançando, fiquei pensando em quanto nos acovardamos em assumir o testemunho cristão restaurando a cultura e as artes em todas as suas manifestações e quanto temos perdido de tempo e oportunidades em nosso amado Brasil.

E continuamos perdendo músicos e artistas competentes, que vão sendo expelidos, abandonados, por cometerem o “incômodo” de pedir aos pastores e artistas que se preparem e façam a coisa com excelência e disciplina, que sejam criativos e ousados, e que não abracem simplesmente modelos importados estéticos e sonoros de arte. Não podemos perder o senso de missão no que somos e fazemos!!!

É bom ver o reino se espalhando, sendo plantado no coração dos homens em todas as culturas, de um modo constante e misterioso, mas que cresce mais e mais a cada dia. Que sejamos cristãos e artistas da ekklesia, comunidade dos santos, verdadeiramente “chamados para fora”, presença e testemunho no meio de uma geração perversa, corrupta e errante.

Nelson Bomilcar

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