sexta-feira, 9 de maio de 2008

NA LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA

O Rio de Paz está se tornando um rio caudaloso e que se espalha pelo Brasil. Bases do movimento começam a ser estabelecidas em várias cidades brasileiras. Surge, então, o sonho de ver milhares de brasileiros fazerem uma resistência apaixonada, pacífica e lúcida ao maior mal social do presente momento da história do nosso país: o horror das mortes por assassinato, 50 000 por ano.

Encontro-me nesse momento em Recife, felicíssimo com os resultados do nosso primeiro ato público do ano de 2008 na capital pernambucana. Acabamos de realizar um protesto contra a morte de 1 511 cidadãos desse estado, assassinados entre Janeiro e Abril do presente ano. Com a ajuda do PEbodycount chegamos aos números da violência e aos nomes de 100 dessas pobres pessoas cuja vida foi interrompida pelo crime no mês de Abril.

O que vi jamais sairá da minha memória. Centenas de pernambucanos trabalhando uma madrugada inteira, debaixo de chuva (houve uma hora que chovia e ventava tanto que a impressão que dava era a de que tudo seria varrido da praia) enchendo sacos de lixo de areia. A idéia foi a de que esses sacos de lixo asumissem a forma de um corpo humano, reproduzindo a cena típica das comunidades pobres brasileiras - os corpos que jazem numa rua qualquer após terem recebido um tiro cobertos por este sacos, com o pai e a mãe tendo que interpretar para os seus filhos quando os levam para a escola o que a cena representa. A classe média não suportaria viver essa afronta constante à dignidade humana na extensão em que as comunidades pobres estão vivenciando.

Terminamos o trabalho por volta das 3h30m da madrugada. O dia amanheceu e lá estava aquela dramatização da morte por assassinato montada, contrastando com a beleza da praia da Boa Viagem. Todos os orgãos de imprensa se fizeram presentes e ganhamos o noticiário do país, inclusive do Jornal Nacional, que mencionou o nosso manifesto pela primeria vez dando destaque a três pontos: policiamento ostensivo, combate às drogas e reforma das prisões (há quanto tempo desejava que esse dia chegasse - o dia em que pudesse chamar a atenção da nossa sociedade para esses verdadeiros campos de concentração que são as nossas prisões).

Guardo desse encontro a lembrança da jornalista de uma emissora de televisão que me entrevistou e que ficou visivelmente emocionada com as minhas palavras quando falava sobre o drama das vidas ceifadas pelo crime no Brasil, a união do povo pernambucano no afã de denunciar o mal, os jovens adolescentes que vi aos montes parando pessoas na calçada para assinar o manifesto do Rio de Paz, as centenas de pessoas que pararam para assinar o manifesto, os parentes de vítimas que surgiram com seus relatos sempre comoventes e a simpatia da imprensa com todos os jornalistas como se estivessem a nos ajudar a emitir nossa mensagem contra a violência.

Esse protesto teve algo de diferente em relação aos demais. Pela primeira vez mencionei o nome do presidente da república nas entrevistas. Confesso que não consigo me imaginar ofendendo o presidente do meu país. Não aprovo comentário desrespeitoso à alguém investido de tal autoridade. Aliás, precisamos aprender a ser fortes nos argumentos e respeitosos na forma de nos reportarmos às pessoas. Mas dessa vez tive que falar mencionando o seu nome. Isto porque na noite anterior o vi declarando num discurso que "o Brasil está vivendo um momento mágico". Ele falava sobre os indicadores econômicos. Lá estava eu, porém, a ouvi-lo com a cena dos familiares das pessoas assassinadas no Rio de Janeiro que pude conhecer. Fui levado a pensar no que inevitavelmente saiu da minha boca nas entrevistas de hoje: o Brasil pode até estar vivendo um momento mágico na economia, mas está vivendo um momento trágico na segurança pública, pois 50 000 homicídios por ano é obsceno. Uma nação que ainda não aprendeu a defender o direito prioritário dos seus cidadãos, que é o direito à vida, não tem motivo para se vangloriar do que é sob todos os aspectos secundário, pois, devemos servir a vivos e não a mortos.

Antonio Carlos Costa (Pastor da IP da Barra-RJ)
Rio de Paz

Um comentário:

Anônimo disse...

Que coisa maravilhosa, tenho certeza que a violência em Recife acabou!há-há-há...VAMOS SER SÉRIO POR FAVOR.